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Introdução
Como todos sabemos, o dinheiro move o Mundo. A partir do século VIII, mercadores do Oriente Médio empreenderam uma expansão da rota de comércio marítimo pelo vasto Oceano Índico. Inspirados pela tradição comercial entre o Oriente Médio e a Índia cujas raízes vão além das aventuras de Alexandre, o Grande, e remontam as conexões da Cidade de Uruk na Mesopotâmia e o Civilização Harappan na Índia, estes mercadores se lançam ao mar tentando conectar regiões como a Península Arábica, a África Oriental, incluindo a Ilha de Madagascar, o Subcontinente Indiano e a China.
As Rotas da Seda impulsionaram uma intensa troca cultural em várias partes do mundo. Ao longo de sua história, a fusão de civilizações e povos resultou no compartilhamento de conhecimentos variados e na formação de disciplinas científicas ainda reconhecidas hoje, como medicina, matemática, cartografia e astronomia.
Mas não somente, houve também enriquecimento nas áreas que hoje não são mais consideradas ciências, como a alquimia e astrologia, porém elas ainda desempenham um papel importante na herança compartilhada dessas rotas e tiveram influência no desenvolvimento das ciências.
Astrologia e Astronomia como Campo de Conhecimento Único
Um exemplo chave de tal disciplina é a astrologia. Ao observar de perto a posição das estrelas fixas e planetas, a astrologia buscava entre outras coisas compreender o comportamento e prever eventos com base na influência desses corpos celestes. A prática provavelmente começou assim que os humanos começaram a observar os ciclos astronômicos.
Grande parte da história, até o século XVII, viu a astrologia como uma disciplina acadêmica em grande parte da Eurásia, não havendo distinção entre astronomia e astrologia. De fato, conceitos astrológicos eram amplamente aceitos em cortes, círculos políticos e culturais, aplicados também em campos como alquimia, meteorologia e medicina tradicional.
Astrólogos Navegadores e as Estrelas Fixas
Este notável empreendimento marítimo, que envolvia jornadas através de extensões marítimas longe da costa, requeria a maestria de uma técnica de navegação de valor histórico: a astronavegação. Fundamentada na observação de planetas, da lua, do sol e de estrelas fixas no firmamento, a astronavegação era a ferramenta crucial para orientação e trajetória em alto mar.
A astronavegação se baseia na observação de planetas, da lua, do sol ou estrelas fixas como pontos para se localizar geograficamente e navegar. Na verdade, conseguimos nos guiar com facilidade apenas observando estrelas fixas, sem a necessidade de instrumentos. Existem referencias históricas do uso de estrelas para a astronavegação desde a antiguidade, a mais conhecida era o uso da Estrela no Norte (na Índia chamada de Dhruva) como referência para retornar a segurança da costa.
À medida que uma determinada estrela fixa se levanta e se põe no horizonte no mesmo azimute fixo (o ângulo entre o Norte, medido no sentido horário ao redor do horizonte do observador, e um corpo celeste) elas formam uma bússola natural. Essa bússola estelar foi utilizada tanto por navegadores árabes ao cruzarem o Oceano Índico. E esse é fundamento prático em torno da astronavegação.
Siddhantas: A Influência das Estrelas Fixas e as Tabelas Indianas
A astronavegação requer mapas estelares que permitem ao navegador identificar estrelas fixas específicas no céu por meio de sua localização dentro de várias constelações. As antigas tabelas astronômicas indianas, como as “Siddhantas”, desempenharam um papel crucial na formação das teorias árabes.
Dentro da literatura védica, os Siddhantas parte dos membros que sustentam a Astrologia Védica. Sendo parte da literatura indicada para os estudantes de astrologia até hoje. No campo da astrologia védica são estes textos que ajudam a determinar o tempo, especialmente prevendo datas e horários auspiciosos para rituais védicos.
Os antigos textos védicos descrevem quatro medidas de tempo principais – savana, solar, lunar e sideral, bem como vinte e sete nakshatras, ou seja, as constelações usando Taras, as estrelas fixas. Dentro dos pilares do conhecimento védico, o Atharva Veda, compilado a milênios, já se fala de estrelas fixas e movimento de corpos astronômicos.
A apropriação das Estrelas Fixas
Por esse motivo, A Índia já era reconhecida por suas habilidades e maestria secular em torno da cartografia celeste, uma área vital para a navegação marítima. Astrônomos árabes, reconhecendo a importância dessas técnicas, incorporaram-nas em seus estudos. É sabido que navegadores como Ahmad Ibn Majid entre outros, encontraram inspiração nas práticas indianas, aprimorando as rotas e a precisão das viagens marítimas.
Astrônomos como Al-Fazari e Al-Battani exploraram esses textos, adaptando seus cálculos e conceitos para suas próprias pesquisas. A meticulosidade das tabelas indianas influenciou a precisão das observações e previsões árabes.
O impacto profundo e duradouro da astrologia também se estende de maneira significativa à interconexão entre a observação da rica simbologia das mansões lunares árabes e os renomados nakshatras da antiquíssima astrologia védica. Esses elementos, entrelaçados, formam uma trama entre as duas escolas de astrologia.
O Livro das Estrelas Fixas
Vale a menção que o documento mais antigo conhecido do mundo islâmico que cataloga as estrelas e traça suas constelações é o texto árabe “kitāb suwar al-kawākib“, o ‘Livro das Estrelas Fixas’, compilado pelo astrônomo persa Abd al-Rahman al-Sufi por volta do ano 964 d.C.
O ‘Livro das Estrelas Fixas’ é conhecido como uma síntese das obras de astronomia do matemático e astrônomo romano Ptolomeu (100 – 170 dC), uma das maiores referência da astrologia ocidental. Mas assim como outros livros, os astrônomos islâmicos medievais também se inspiraram em fontes sânscrito para adquirir “métodos de cálculo da posição dos corpos celestes e para criar tabelas que registram o movimento do sol, da lua e dos cinco planetas conhecidos.”.
A Luz do Conhecimento da Antiguidade
É importante situar este texto astronômico no contexto em que foi produzido e no ambiente que tornou sua produção possível. Assim como muitos clássicos gregos, O Livro das Estrelas Fixas foi produzido durante o grande movimento de tradução do mundo islâmico, que ocorreu em centros de aprendizado como Bagdá, do meio do século VIII ao final do século X.
Durante esse período, muitos textos tanto do Mundo Antigo (grego, romano, mesopotâmico e egípcio) quanto textos das Rotas da Seda, especificamente do Planalto Iraniano e do Subcontinente Indiano, foram traduzidos para o árabe por estudiosos que trabalhavam em instituições de ensino e tinham acesso a vastas bibliotecas onde grande parte do conhecimento acumulado da humanidade estava armazenado.
Como tal, o Livro das Estrelas Fixas, assim como diversos textos produzidos durante esse período, foram uma contribuição importante para a mudança acadêmica em direção à astronomia observacional e especialmente a astrologia. A astrologia era, sem dúvida, bastante popular e amplamente aceita no mundo islâmico medieval.
Conclusão: AstroNavegação como prova de um Legado da observação Astrológica.
Ao explorarmos as intricadas conexões dos astrólogos árabes e a influência da Índia em suas jornadas, torna-se claramente perceptível que o estudo das estrelas transcende limites geográficos e culturais. A busca pelo conhecimento em torno das estrelas fixas unificou essas civilizações de forma indelével que causam confusão até os dias de hoje em torno .
No contexto da vasta literatura sobre as mansões lunares presentes nos textos astrológicos árabes, é possível encontrar inúmeras citações e referências aos textos védicos e à sua relevância no contexto do subcontinente indiano. Essa interconexão entre as tradições astrológicas árabes e védicas evidencia uma rica tapeçaria de influências e conhecimentos que atravessaram fronteiras geográficas e culturais, enriquecendo ainda mais o intricado universo da astrologia.
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